terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Relato de Parto - Irene Mazullo


O meu parto começou a muitos meses atrás, quando eu descobri que estava grávida. Sempre soube que queria um parto normal, mas assim que descobri a gravidez, pesquisei sobre todos os tipos de parto e acabei assistindo ao filme "O renascimento do parto" junto com meu marido e nossa vida mudou.

Serio! Ele virou para mim e disse: Eu vou te apoiar no que você quiser fazer.
E me apoiou mesmo. Até quando a família e amigos nos disseram que era uma loucura.

Não era loucura. Era um sonho.

Então quando eu fiz nove meses de gravidez, tudo pronto e planejado... Começou a surgir a ansiedade. O bebê estava muito grande nas US. Mais de 4kg e nada de sinal de ele nascer. No meio de tudo isso ele me deu um prazo: Se o bebê não vier até as 40 semanas, vamos ao hospital induzir o parto.

Lembro que isso foi em um sábado. Passei o domingo angustiada prestando atenção no meu corpo e vendo se JB não dava algum sinal. De domingo para segunda era a troca de lua, e fiquei focada naquilo. E quando foi 2:30h da madrugada do dia 05, senti uma água descendo pelas minhas pernas. Corri para o banheiro e depois falamos com o médico.

Calma! Vamos fazer uma US para vê se rompeu a bolsa ou não. Nisso, eu já estava usando fralda, pois escorria muita água, e o tampão também começou a sair.
Fomos para o hospital somente na noite seguinte e a US mostrou que o bebê estava com 4,4kg e a bolsa não havia rompido.

O médico da emergência já me encaminhou para uma cesárea... E lembro de ver o rosto pálido do meu marido. Ele também não estava preparado para aquilo.
Pedimos para dar um tempo e conversamos do lado de fora do hospital.
Eu não queria a cesárea. Eu queria esperar o bebê dar sinal de que estava chegando.
Fomos para casa e a equipe de parto chegou logo depois. Conversamos e eles me explicaram quando eu deveria chamá-los.


Mas que poderia demorar dias para começar o trabalho de parto.

No dia seguinte acordei com contrações com dor. Uma cólica forte.

Comecei a cotar e já começou com duas a cada 10 minutos. Liguei para a minha Doula.
Ela fez festa: estamos em trabalho de parto, Irene! E está começando acelerado!
Ficamos na expectativa. Eu e meu marido começamos a arrumar a casa, colocar a piscina no lugar que queríamos. Minha mãe veio me visitar e retiramos todos os enfeites de Natal. Ela limpou a casa toda e conversou bastante comigo sobre o que esperar da dor (ela teve os 3 filhos de parto normal).

Duas horas da tarde as doulas chegaram e eu já estava com uma média de 3 contrações a cada 10 minutos... Então isso era um bom sinal.

Nesse meio tempo eu me arrumei. Elas me ajudaram a fazer chapinha, parando só para sentir as contrações. Fiz uma maquiagem... Entrei na piscina e foi um processo natural... Eu sentia as contrações e elas conversavam comigo enquanto uma delas cronometrava as contrações e anotava tudo.

Até então eu estava tranquila... Pensando: nasci para parir... Estou aguentando numa boa e pedi pro meu marido colocar as musicas que tínhamos separado para o parto.
Fiquei relaxando com a água morna a cada intervalo e quando começou a ficar 4 contrações a cada 15 minutos a dor começa a crescer. Então eu já fiquei inquieta... Já não conseguia ficar na piscina. Sai e fui pra bola. Meu marido ao meu lado me apoiando. E em um momento senti uma dor diferente misturada e eu percebi que queria ir ao banheiro.

Ele me ajudou e consegui. E lembrei do que o obstetriz havia me dito. Que quando eu estivesse perto de ter bebê, ia ter vontade de ir ao banheiro. E era pra eu ir e deixar tudo sair.

Fiquei animada. Mais um sinal de que meu filho estava chegando.

Eu ficava dentro de mim a cada dor que vinha: Vem meu filho. Estou ansiosa. Vem rápido!!

Consegui ainda postar uma foto no Instagram e depois disso não consegui fazer mais nada além de sentir as contrações. Elas começaram a ficar com pouco espaço entre uma e outra e eu já não conseguia conversar. Pedi para desligar a música. Quis ir para o quarto. Parecia que tudo me incomodava. Então quis tirar a roupa... Não conseguia deixar ninguém tocar em mim.

No meio de uma dor forte pedi para ir pro chuveiro. Meu marido me segurou e eu fiquei agachando no banheiro... Para tentar acelerar a dilatação. A dor aumentava.
Pedi para fazer o toque. Elas não queriam. Podia doer mais. Mas eu precisava saber com quantos centímetros estava. E estava com 7.

Ainda faltavam 3 e eu comecei a achar que eu não ia mais conseguir. Poderia durar ainda mais de 3 horas e na hora eu pensei: mais 3 horas disso e eu posso morrer.

E comecei a dizer: não está dando mais. Me da uma anestesia.

Meu marido me dizia: vc é forte amor, já aguentou até aqui. Vai conseguir.

E eu falava para as meninas: Passa xilocaína em mim, passa na minha barriga!!! Vcs tem xilocaína em algum lugar que eu sei!

Elas diziam: Irene, você não quer q seu filho nasça dormente. Aguenta mais um pouquinho.

Eu segurava minha barriga, Pq enquanto o bebê descia as perninhas dele não paravam dentro de mim.

Muita gente disse que o bebê ficava parado no final do trabalho de parto, mas o meu não parou. Ele me chutou toda. Então eu segurava a barriga e chorava. E meu marido me acalentava.

Nisso, os intervalos começaram a desaparecer e eu já estava tão cansada que não conseguia mais ficar acordada. Eu desligava e voltava quando a dor batia.

Fiquei assim deitada na cama até sentir que o bebê estava passando por dentro de mim. Você sente ele abrindo caminho.

Nessa hora elas me explicaram que não era pra eu fazer força, pois acabaria segurando ou puxando ele de volta. Mas quando a contração vinha eu fazia força e a dor era pior.
Não conseguia segurar e fazia a força.

Meu marido saiu de perto de mim e voltou. Disse no meu ouvido: Se em uma hora o bebê não nascer, vou te levar pro hospital.

Depois de perceber que eu não estava evoluindo nessa posição, o obstetriz disse: Irene, escolha uma posição para empurrar, pois em menos de meia hora seu bebê vai chegar.
Isso me deu uma força tão grande. Me ajudaram a levantar e quando olhei o quarto, vi minha poltrona e lembrei da posição acocada que vi na internet. Resolvi me ajoelhar na frente dela.

Me senti uma mulher das cavernas... Ajoelhei e senti o bebê descer um pouco mais. E a ela disse: quando a contração vier, empurra com toda a sua força.
Quando veio eu empurrei. Senti a cabeça dele descer.

Eles disseram, toca e sente o bebê. Ele está chegando.

Quando eu toquei, senti mais uma força me invadindo. Segurei a mão do meu marido... Ele fazia carinho na minha cabeça e me dizia que o bebê estava chegando.
Eu lembro de fazer mais duas forças e ele sair.

Ouvi eles falando: calma, tira a circular de cordão. E senti um alívio. A dor passou. Parecia que nada tinha acontecido.

Meu marido me dizia: vc conseguiu amor. E eu parecia anestesiada. Não conseguia parar de pensar que queria me virar e ver o bebê antes de tudo.

Eles me ajudaram a virar e já me deram o bebê enrolado em um pano. Lembro que ele olhou nos Meus olhos e fez um barulhinho. Me ajudaram a colocar ele no peito. E ele já começou a mamar. Foi uma sensação muito louca. Eu dizia que não tinha leite. Eles diziam: se ele está mamando é Pq tem.

Eu segurei o bebê e procurei algo meu nele e não achei. Ele não parecia comigo.

Mas ele era lindo e todo perfeito. Tão grande e tão ativo. Tão meu.

Foi incrível.

Depois me avisaram que o cordão tinha parado de pulsar. E ali, com ele mamando no meu peito, o pai dele cortou o cordão.

Nós dois olhamos ele é conversamos e babamos.

O bebê foi examinado ainda no meu colo.
Depois veio a parte de extrair a placenta.

Pegaram o bebê para vestir e só enxugaram ele, tudo como eu queria.

Não foi preciso fazer nenhuma intervenção, pois assim que colocaram ele no trocador ele fez xixi e coco... Sujou tudo. Uma graça, meu bebê.

Depois disso meu marido segurou o bebê, eu me levantei e fui tomar banho no meu banheiro. Fiquei impressionada por conseguir fazer tudo isso depois de ter parido um bebê. Foi muito bom poder entrar no meu próprio banheiro, tomar banho sozinha, a Doula me vigiando fora do box, me vesti e me arrumei. Prendi meu cabelo. Me olhei no espelho e pensei: Consegui! Sou mãe. Não fui cortada, nem operada.
Levei 3 pontos. E é isso.

Um parto humano, sem anestesia, sem soro, sem episotimia, sem medo, sem pessoas estranhas me olhando sentir dor.

Tudo feito como eu queria. Meu filho ficando comigo até a hora que eu quis levantar para tomar banho, o cordão sendo cortado somente quando parou de pulsar. Enfim... Meu sonho realizado.

E se me perguntar: Doeu muito?

Eu digo: Deu pra aguentar.

Porque as pessoas só pensam na dor? E o que essa dor está te trazendo? Isso não é o mais importante? Para mim é o que importa.

E eu faria tudo igual mil vezes.


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