domingo, 4 de janeiro de 2015

Relato de parto - Débora Loureiro


“Parto normal, para mim, é cesárea!”
Era essa a frase que eu dizia sempre que me perguntavam se eu queria parto normal ou cesárea. E foi assim até completar 37 semanas de gestação, quando minha decisão de parto tomou um rumo jamais antes imaginado.
Como engravidei sem plano de saúde, meu parto seria todo pago, desde a internação no hospital até os profissionais envolvidos. Já estava tudo definido e isso não se discutiu em nenhum momento antes de chegar a 37ª semana. Mas sabe aquelas surpresinhas que a vida traz? Pois é, a minha chegou nesse momento.
Do dia para a noite, decidi que não queria pagar nada pelo parto. Eu poderia ter a minha filha pelo SUS, tudo de graça. Era assim com tantas mulheres, porque não poderia ser assim comigo também? Eu só não teria um quarto só para mim, nem meu marido como acompanhante, nem uma mesinha para colocar minhas lembrancinhas fofas (que eu nem tinha feito ainda!)... Ah, e claro, não teria a minha tão esperada cesárea! Sim, porque no SUS a prioridade é o parto normal, e a cesárea só acontece em último caso (salvo algumas exceções, tipo médicos “bonzinhos” ou que não têm paciência para esperar um parto normal, por exemplo). Então eu não gastaria nem 1 real mas, em compensação, passaria por todas aquelas terríveis dores e longa espera de um parto normal... Me dava arrepios só de pensar.
Lembrei de tudo que já havia escutado sobre parto normal a minha vida toda: que doía demais, que demorava horas e horas, que a espera ia muito além das 39 ou 40 semanas, que a bexiga poderia sair do lugar e eu teria de fazer uma cirurgia, que teria incontinência urinária, que sentiria dores para ir ao banheiro durante 1 ano inteiro... Era tanta coisa que, se fosse escrever, daria um mini livro! Fora isso, tinha meu marido dizendo que era super arriscado, que se algo acontecesse comigo ou com nossa filha ele não se perdoaria nunca, que eu tinha de ter mais responsabilidade e juízo e não ficar querendo ter esse tipo de parto nessa altura do campeonato... Ou seja, apoio ZERO e medo SUPER!
Mas quando coloco algo na cabeça, eu vou até o fim e não sossego enquanto não fizer. E, como num passe de mágica – e depois de conhecer a maternidade, as salas de pré-parto e de parto, conversar com mulheres que já haviam parido e adoraram, e ter o apoio delas – comecei a desejar o parto normal tal qual eu desejava as guloseimas que me davam água na boca durante toda a gestação. Sim, eu comecei a querer MUITO um parto normal, e era isso que eu teria, no que dependesse de mim!
Falei com uma amiga querida, a Thais, também grávida e decidida a ter um parto normal desde o início da gestação. Ela me sugeriu contratar uma doula porque me ajudaria muito na hora do parto. A principio neguei e agradeci, pois assim como não quis gastar com o parto, também não queria ter de pagar uma pessoa para isso. Disse que teria meu parto com a cara e a coragem (sabia de nada, a inocente). Ainda bem que marido foi muito mais sensato que eu e aceitou a idéia da doula. E foi assim que a Daniela entrou nessa história.
Agora estava tudo certo: 37 semanas, decisão pelo parto normal, amiga grávida no mesmo barco e doula pra ajudar a fazer tudo acontecer. Sempre desejei a cesárea, não por gostar de cirurgia, mas sim por não gostar de sentir dor (oh, céus!), porém sempre estive informada sobre tudo o que acontece no mundo dos partos normais. Lia relatos, assistia programas na TV, sabia dos procedimentos que eram aplicados... Engraçado, né? Era pra ser mesmo, a vida já estava me preparando a todo o momento, e eu nunca desconfiei de nada. Prefiro dizer que foi Deus, mesmo. Ele já sabia de tudo, como sempre. Em 3 semanas li ainda mais, me aprofundei em cada assunto, tirei dúvidas, assisti filme, mais programas de TV... Era o significado da palavra “empoderamento” se aplicando na minha vida.
Terça-feira, 39 semanas e 6 dias. Nada de sinais de trabalho de parto. O medinho de a gestação chegar às 41 ou 42 semanas às vezes batia, mesmo eu sabendo que isso não era problema. Estava sendo monitorada pelo GO que faria meu parto (ele era plantonista no hospital, na realidade. Deus tinha de me abençoar para poder ser ele no dia que fosse ter a Maria Eduarda. E eu confiava que isso aconteceria.) e ele já havia dito que, se não tivesse sinal do início do TP até o próximo domingo, eu seria internada para a indução. Vale informar que fiz todo o pré-natal com um GO, e meu parto seria feito por outro.
Como até então a ordem era descansar, eu que ficava em casa praticamente o dia todo sentada ou deitada, estava sendo massacrada cada dia mais por dores chatas nos quadris.  Na terça-feira mesmo decidi ajudar a Duda a vir pra esse mundo. Fui ao shopping com a cunhada e o sobrinho pequeno e andamos por cerca de 5 horas seguidas. Eu poderia andar mais 5 horas, pois estava super bem. As dores sumiam quando andava. Saímos do shopping e, por orientação da Dani, fiz exercícios na bola de pilates. Dia super intenso e finalmente fui pra casa.
Tomei banho e, já deitada, falando pelo celular com a Thais sobre parto (claro!), senti umas mexidas muito fortes na barriga. Parecia que ela estava mudando de posição lá dentro. Nem deu tempo de achar muito estranho, senti uma dor e, ao virar de lado, ploft... a bolsa rompeu! Chamei o marido para confirmar se era aquilo mesmo, mas não tinha dúvida, o liquido não parava mais de sair. Foram minutos um pouco conturbados e até engraçados, porque minha mala ainda nem estava ponta, e fiquei meio desorientada com aquele líquido vazando, que cheguei a pensar em não ir para o hospital porque não queria que eles estourassem minha bolsa – oi?! – rs. Decidi ir logo para o hospital porque não conseguiria mesmo pegar tudo o que faltava, minha cabeça estava a mil e eu estava super feliz. Avisei a Dani e fomos.
Cheguei no hospital por volta de 1hr da manhã, fui examinada pelo GO de plantão que me informou: 1 cm de dilatação. Fiquei um pouco triste porque achava que com o mega passeio pelo shopping mais os exercícios na bola, estaria logo com uns 5 cm.  Mas tudo bem. Logo a Dani chegou e meu marido precisou ir embora. No SUS, na sala de pré-parto, só é permitida a presença de mulheres, então ele só poderia assistir ao parto em si, quando chegasse a hora.
Não demorou e a Dani chegou. Confesso que estava meio sem jeito, sem saber o que aconteceria. A conhecia há bem pouco tempo, a tinha visto apenas uma vez e estava tímida. Entrava no banheiro para me trocar, pra ela não me ver nua. Ela com toda naturalidade ajeitou tudo e começou: massagem nas costas, exercícios na bola, cheirinho de canela (aromaterapia), música... Estava gostando muito de tudo aquilo!
Logo começaram as contrações, bem fraquinhas, todas desritmadas ainda. Caminhamos bastante, conversamos, rimos. As contrações vinham e eu parava, encostava na parede mais próxima, fechava os olhos, fazia uma carinha de risada misturada com careta de dor, esperava passar e logo continuávamos a caminhar. Eu sempre perguntava para a Dani se aquilo ia piorar, pois estava achando até tranqüilo. As pessoas passavam por nós e perguntavam, algumas desesperadas: “Ela está passando mal?”. Eu só ouvia, nunca respondia. A Dani dizia com a maior tranqüilidade do universo: “Não, não... é só uma contração!”. Risos. Isso me tirava a dor na hora, dava muita risada.
No quarto de pré-parto havia chegado uma grávida, bastante nervosa, ansiosa, louca por soro, louca por exames de toque, doidinha por uma cesárea. A apelidamos de “minha ocitocina natural”, pois sempre que eu olhava pra ela, vinha uma contração. Era impressionante, estava caminhando sem contração alguma, já por algum tempo, até desanimada, mas quando cruzava com ela, vinha na hora! Segundo a Dani, isso me ajudou bastante a ter as contrações mais ritmadas. Assim fomos a madrugada toda, e por volta das 8hr da manhã (acredito eu, não me lembro muito bem os horários) o meu tão desejado médico plantonista chegou e tive meu segundo exame de toque. Nada fácil, por sinal.
Fiquei toda inocente na maca, esperando ansiosa para saber se já tinha evoluído alguma coisa na dilatação e super feliz por o médico ali. Mas, quando ele fez o exame, aí sim eu quase morri! Não sei nem dizer como foi, sei que foi tão “forte”, tão “profundo”, que gritei... Uma, duas, três vezes. Foi muita dor, demais, tão grande que achei que ia parir ali naquela hora. Cheguei a subir o corpo pela maca, mas ele não parava. Depois que terminou, fiquei ali deitada, imóvel, olhos fechados. Só pensava: “porque ele fez isso? Eu confiava tanto nele, nunca imaginei que fosse fazer uma coisa dessas...”. Chorei, mais por dentro do que por fora. Só consegui derramar uma lágrima, mas não deixei isso me atrapalhar. A Dani ficou do meu lado o tempo todo, segurava minha mão e me pedia para ficar calma. Eu sabia que se me entregasse a minha tristeza ali naquela hora, nunca mais iria parar de chorar, ia desistir de tudo e não teria condições nem de enfrentar uma cesárea.
Respirei, ouvi as orientações da Dani, fingi que nada daquilo havia acontecido, abri os olhos e levantei para continuarmos nossa caminhada pelo hospital. Não ia ser isso que estragaria tudo. Depois fiquei sabendo que ele fez aquilo para ajudar na dilatação. Eu ainda estava com 1 cm e depois do toque, cheguei a 2cm. Não deixou de ser uma violência, penso eu, mas se foi para ajudar, valeu. Se não fosse também, pra mim não tinha problema. Como eu disse nada, muito menos isso, me faria desistir de tudo o que eu queria. E eu sabia que aquele médico era o melhor que eu poderia ter, então isso não me abalou, não.
Nesse tempo, fiz alguns exames de cardiotocografia, para ver como estavam os batimentos dela – estavam ótimos, sempre. Às 9:15h o médico avisa que, dali há duas horas, aplicaria o soro com ocitocina, para adiantar, pois a dilatação estava lenta e o colo do útero já estava quase apagado. Eu logo levantei o dedo e disse que não aceitaria o soro, e a Dani em seguida disse também que não o colocariam em mim, que dava muito bem para continuar sem ele.  Falamos isso e ele saiu da sala, meio que aceitando nossa imposição. Achei aquilo demais! Ah, ele já estava perdoado pelo exame de toque dolorido, rs.
Andamos mais pelo hospital todo, para fugir do médico e do soro. Passaram as 2 horas e ele nem atrás de nós foi mais. Ótimo!
Não me lembro a ordem dos acontecimentos, mas fui para o chuveiro, fiquei mais tempo na bola, almocei em cima dela, mais massagem, caminhada, e aí começaram as contrações mais fortes. Nunca me esquecia de perguntar para a Dani se iriam piorar. A resposta era sempre sim. Passei por mais um exame de toque e estava com 4 cm. Esse foi o ultimo. Foram 3 no total.
Me lembro de estar deitada na maca e ouvir a Dani pedir licença para ir buscar algo para ela comer (ela estava sem comer NADA desde a madrugada, quando pisou no hospital). Eu, claro, disse que ela deveria ir sim, e fiquei sozinha. Nessa hora me bateu um medinho, porque já havia outra gestante na maca ao lado, quaaaase parindo, e chorava muito. Quando me vi sozinha senti medo, e as contrações vinham cada vez mais forte, e eu sem a minha doula. Peguei logo o celular e quando estava para mandar a mensagem suplicando a volta dela, eis que a vejo entrando pela porta. Ela voltou muito rápido, para a minha alegria. Foi um alívio muito grande e, se não pedi, me lembro de ter ao menos pensado em nunca mais deixar a Dani sair de perto de mim.
As dores fortes eram chatas, não posso negar. Em todos os momentos, a Dani sempre pedia para eu me conectar com a dor. Pra esquecer tudo que estivesse ao meu redor e pensar só nela, e para que ela servia. Era pra trazer minha filha ao mundo, então era pra sentir prazer com aquilo tudo e pensar que era menos uma contração. Foi fácil? Não! Mas é totalmente possível! Quando comecei a pensar em ter um parto normal, me vinha a mente que eu não poderia morrer sem ter passado por esse parto, e tudo o que o acompanha. Quando você sabe o que quer e não aceita outra coisa além daquilo, você consegue. Eu queria passar por tudo aquilo, inclusive pelas dores, então a solução era me entregar mesmo.
Me lembro do médico voltando na sala para me oferecer analgesia. Dessa vez, perguntei o que a Dani achava. Nessa hora, como estava mais vulnerável por conta das contrações mais fortes, tudo que pudesse me tirar daquela situação seria bem vindo. Mas eu procurava lembrar porque estava ali, e como queria que tudo acontecesse. A Dani disse que eu estava indo muito bem e que não precisava de analgesia. Era tudo o que eu precisava ouvir. Segui em frente, firme e tentando ser forte. O médico saiu para fazer uma cesárea e pediu para que nós, eu e a outra gestante ao meu lado, não tivéssemos bebê antes do retorno dele. Nessa hora a Dani ainda brincou: “Esse parto quem vai fazer sou eu!”. Dani, cuidado com o que você fala! :)
Resolvemos então voltar para o chuveiro. E foi ali que tudo mudou. Nessa hora eu já alertava a Dani de que “iria morrer”, que não estava agüentando mais. Devo ter falado isso umas mil vezes. Pensava: “Porque me meti nisso? Porque fui inventar de ter esse parto?”.  Lá dentro eu  já não tinha mais vergonha de nada. Eu já estava dentro de mim, não conseguia ver mais nada ao meu redor, nem pensar em qualquer coisa que não as contrações. Elas vinham uma atrás da outra, quase não tinha mais tempo para descansar.
A pressão lá embaixo já tinha começado, era uma sensação muito diferente. Eu me lembrava dos relatos que havia lido, das mulheres dizendo que o corpo pedia para fazer isso e aquilo. Saber disso me ajudou muito a entender tudo o que estava acontecendo. Fiquei sentada na cadeira debaixo da água, encostei minha cabeça na parede e ali apaguei. Finalmente era a tal “partolândia” que eu tanto havia ouvido falar. E eu achava que isso era “viagem” das gestantes. Eu simplesmente adormeci, não sei por quanto tempo, mas eu “sumi” dali. Segundo a Dani, ficamos quase 1 hora no chuveiro. Lembro que acordei e pedi para sair dali. Achava que ia morrer (de novo), porque estava muito abafado e senti minha pressão baixar. Fiquei com dó da Dani todo o tempo, imaginava o calor que ela não estava passando ali dentro, mas não conseguia falar nada, e não queria que ela saísse dali. Ela me enxugou, me ajudou a vestir minha camisola hospitalar de luxo e saímos.
A pressão era bem forte, eu já sentia vontade de fazer força, mas achava que não conseguiria, por conta da dor. Não imaginava como eu conseguiria fazer força com aquela dor. Pedi o “remédio” pra Dani, mas implorei para ela não sair de perto de mim. Imagina como ela ficou confusa, coitada. Eu pedia o “remédio”, mas não queria de verdade. Pedia porque era minha fraqueza. Numa dessas a Dani disse que já tinha pedido, e o médico já estava chegando com ele. Chegava gente da China, mas não chegava meu médico!
Em uma contração, senti uma vontade de gritar, um grito bem lá do fundo da garganta, incontrolável, e agachei ao pé da cama. Quando levantei, saiu um jato de líquido de mim. Olhei pra Dani e a cara era de espanto. Ela abaixou e viu a cabeça da bebê já aparecendo. Ela me disse que pensou que iria nascer ali mesmo, e ficou preocupada em conseguir algum pano para pelo menos forrar o chão. Ela só me pedia para ir para a maca, mas estava difícil até para andar. Logo veio uma enfermeira e pediu para eu subir em outra maca, para irmos para a sala de parto. Eu disse que não tinha condição nenhuma de sair de onde eu estava, que ficaria ali, e a Dani completou: “Ela vai ter o bebê aqui!”. A enfermeira, fofa, só concordou e perguntou sobre a episiotomia, e logo a Dani também respondeu: “Não vai ter episio”. Que maravilha! Estávamos chegando ao fim de tudo e não tinha sofrido nenhuma intervenção ainda. Eu podia contar o exame de toque dolorido como uma intervenção, mas lembra que perdoei o médico? Perdão liberado, assunto encerrado.
Finalmente consegui deitar na maca, e vi a Dani vestindo uma luva. Imagina meu pensamento: minha doula vai realmente fazer meu parto! O encosto da maca estava bem levantado, então fiquei numa posição quase sentada. Naquela hora, até se estivesse plantando bananeira estaria bom pra mim. Brincadeiras a parte, eu não queria era estar deitada, e isso já não aconteceria.
Comecei então a fazer força, quando me pediam. Finalmente o médico chegou. Achava que depois de duas forcinhas, no máximo três, já teria um bebê no meu colo. Se eu tivesse colaborado, talvez fosse mesmo. Segundo a Dani, quando o médico chegou, eu resolvi ficar tímida e fechava a perna! Me lembro dele vindo na minha direção com o dedo levantado, e eu pedindo para que ele não fizesse mais nenhum exame de toque porque não queria sentir mais nada entrando ali. A Dani riu e disse que não dava pra fazer mais nada, porque a cabeça dela já estava apontando! Me pediu para colocar a mão e sentir, mas eu não queria. Não queria que ninguém tocasse ali, nem eu, porque sentia ardendo já. Mas ele colocou a mão, não teve jeito. A Dani me avisou e disse que ele faria isso para tentar preservar meu períneo ao máximo das lacerações. Nem questionei, claro.  Eu continuava fazendo força. Sem analgesia nem nada.
Finalmente saiu a cabeça.  E o alívio é realmente imediato. Acaba o ardor, acaba a dor. É uma sensação única e muito gostosa.  A minha preocupação agora era fazer sair o corpo. Fiz um pouco mais de força, senti o corpo dela deslizando e finalmente a Maria Eduarda havia nascido. As 13h15, 49cm e pesando 3.120kg.
Um corpinho muito gostoso, muito quentinho, foi muito emocionante. Logo me entregaram minha filha, ligada ainda a mim pelo cordão umbilical, que só foi cortado após parar de pulsar. Fiquei ali com ela e pude oferecer meu peito como tanto sonhei e que não seria permitido caso eu tivesse uma cesárea (meu outro GO já havia negado isso a mim, com a desculpa de que isso poderia causar uma infecção nela). Depois do corte do cordão, a levaram para aquecê-la. Logo me trouxeram aquele pacotinho de novo. Era muito mais do que eu imaginava, juro.
Cinco minutos depois do nascimento dela, nasceu também a placenta. Achei que teria nojo ao vê-la, mas tive foi um carinho e respeito por ela. Pisei sem querer em cima dela e quase pedi desculpas. Me chamem de louca, mas foi isso mesmo que pensei. Era o alimento da minha filha, era algo especial para nós. E eu renasci.
Agradeci. A Deus. A Dani. E ao Doutor, que me disse que não havia feito nada, que eu tinha feito tudo sozinha. Só o que ele fez foi amparar a cabecinha dela, para não ficar caída na maca. Ah, que alegria! Nem eu acreditava em tudo aquilo que estava acontecendo.
Finalmente saí daquela sala e fui para a sala de parto, para fazer os pontos. Foram necessários, mas foram poucos, segundo o médico. Foi mais chato do que todas as dores, mas passou e eu estava nova em folha. Dizem que depois da cesárea as mulheres ficam meio dopadas. Já eu estava ligada no 220 v! Era muita adrenalina, muita emoção para uma pessoa só. Não conseguia nem sentir o cansaço, se é que ele existia.
E esse foi o meu tão sonhado e super cheio de surpresas, parto normal, natural. Com exatamente 40 semanas. Se eu faria de novo? Mil vezes, se fosse possível. Não vejo a hora de poder viver uma nova experiência, fazer o que não fiz nesse, viver mais, me conectar ainda mais, aproveitar muito mais. Ainda quando ando pelos corredores do hospital, me lembro de tudo e tenho vontade de chorar. De dor, de saudade, de amor.
Gratidão sempre eterna a Deus por me mostrar que eu sei e posso parir. A Dani, por ter sido essencial para que tudo acontecesse, e por ter sido tão carinhosa e amorosa. Ao meu médico e as enfermeiras fofas, que respeitam a mulher e o parto normal, mesmo sendo SUS. E ao marido lindo, que mesmo não gostando da idéia, aceitou e ficou feliz com tudo.  Se ele assistiu o parto? Não! Não deu tempo... Mas o próximo ele não perde, podem ter certeza!


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