Há exatos 2 meses, pude experiênciar todo o poder e a força que TODAS nós, mulheres temos dentro de nós, adormecida, apenas aguardando para ser despertada.
Estávamos com 38 semanas + 5 dias
e eu realmente acreditava que Maria Clara só viria com 40, 41 ou até 42
semanas. Era uma estratégia para conter a ansiedade, a minha, mas especialmente
a dos outros. Uma das muitas táticas de quando se rema contra a maré e se opta
por ser protagonista do seu parto, e da sua vida. Esperar o bebê mostrar que
está pronto para nascer, respeitar toda a fisiologia do corpo, acreditar na
natureza. Decidir por um parto natural humanizado requer coragem sim, para ir
contra tudo e todos, para lidar com as críticas, recomendações, palpites e
recriminações alheias, para desistir da sua GO fofa que já fez a cesárea de várias
amigas e ir para o outro lado da cidade atrás da GO que de fato acredita no
potencial de toda mulher que quer parir.
Logo eu, tão prática!!!! Sentia
dentro de mim de forma arrebatadora (não tinha como negar ou fugir, pensamentos
constantes, sonhos a noite) que este era o nosso caminho, já devia ser o tal
“instinto materno” me dizendo que devia optar por mais segurança e saúde para o
meu bebê e não para o que fosse mais fácil e conveniente para mim.
A etapa seguinte era convencer o
marido, que junto com o “senso comum” acreditava que cesárea era mais seguro,
mas o remédio para isso é simples, só exige vontade: informação!!!! E então ele
mesmo começou a pesquisar, e rapidinho se convenceu: “Vamos nessa juntos!”
Pronto, era apenas o que eu precisa, do apoio DELE, do pai da minha filha,
agora temos toda a força para encarar o mundo! E assim chegamos até o dia 8 de
janeiro de 2015.
Fui para minha yoga de manhã,
mesmo sentindo uma leve cólica desde o dia anterior, a recomendação era “vida
normal, se movimente que isso ajuda a dilatar o colo do útero”. Até me
empolguei mais do que o normal na aula, dei umas forçadinhas. No final senti
uma cólica mais forte que logo passou.
Fomos a consulta com a futura
pediatra as 13 hs para decidirmos com ela, o que era procedimento
desnecessário, apenas incômodo e agressivo, para não ser realizado na Maria
Clara logo que nascesse e colocar isso em nosso plano de parto. Tudo acertado,
fui para casa e logo depois de tomar banho e sentir uma cólica mais forte “em
onda”, minha bolsa rompeu!!!! Muita emoção, liguei pro papai “volta pra casa” e
para minha mãe, chorando, super emocionada, sabia que ela estava pronta e em
breve estaria conosco. As contrações se iniciaram imediatamente, comecei a
marcar com o aplicativo e já vinham de 5 em 5 minutos e duravam 40 a 60
segundos. Não realizei na hora que isso já indicava um trabalho de parto de
fato, estava tão emocionada e envolvida com o sentimento, mas já estava em
contato com minha linda doula Aline Barreto e com minha médica Ana Fialho.
As
contrações vinham e eu achava graça, gravei vídeo toda feliz kkkkkkk, marido
chegou em casa, ficamos curtindo, ouvindo músicas. Quando a doula chegou
descemos para caminhar pela rua com nossa cachorrinha, e durante uns 30
minutos, senti as contrações se intensificando, subimos, e fui para o chuveiro,
agora era a prova: água quentinha nas costas, se aliviasse significava que o
trabalho de parto estava apenas
engrenando............mas............piorou........ muito, perdeu a graça
sabe!?! Não tinha posição, ainda fiquei uns 40 minutos ouvindo as minhas
músicas escolhidas para o parto, a luz de velas e deixando a água cair, afinal
estava há apenas 2 minutos da maternidade. Só que não kkkkkk, neste momento me
contaram que minha médica estava em um emergência do outro lado da cidade, e
que deveríamos ir para lá, ou ela encaminharia outra equipe para a maternidade
próxima. Olha, “falando” agora essa seria a pior notícia do mundo, mas na hora,
juro, não me desesperei, já estava em um estado meio meditativo, onde não
haviam muitos pensamentos apenas ações e sensações. Os 40 minutos dentro do
carro em trabalho de parto bombante não são mesmo nada legais, me concentrei no
meu mantra budista NAM MIO HO REN GUE KYO, poderoso!!! Me manteve alerta e
calma, até dava palpites no melhor caminho a fazer kkkkk, mas chegando bem
perto da maternidade senti “a tal” vontade de fazer força........mas já?......
pensei.......achei que demoraria muito mais pra chegar neste “gran finale”.
Minha bolsa estorou as 16 hs, isso era 21:40 da noite, 10 cm de dilatação em
5:40hs? entrei hospital a dentro em cena de filme, “SOCORRO, ESTOU PARINDO”,
eles, queriam meu CPF, até parece né!!! Fomos entrando, do elevador para sala
de parto em 1 minuto, sem nem ter dado entrada oficialmente kkkkkkkk.
O período expulsivo sim foi
looooooongo, exaustivo, me fez sentir de fato A DOR, a dor da VIDA, a dor que
nos faz mulheres tão poderosas e empoderadas de nós mesmas. A contração passa e
você continua ali, VIVA, mesmo achando que vai partir ao meio, querendo trazer
seu filho para o mundo, querendo dar A LUZ a ele.
Todo a gratidão ao maravilhoso
companheiro da minha vida Tiago, que se manteve firme, vendo todo aquele
esforço e dor no meu rosto, empoderado sobre todo o processo, me incentivando,
me fazendo lembrar o quanto queríamos que fosse assim, que seria bom para ela,
que ela nasceria mais forte!
Me movimentava de todas as
formas, bebia água e isotônico, queria sempre voltar para a banqueta e ficar de
cócoras, sentia que ela nasceria naquela posição. Constantemente a médica
conferia os batimentos cardíacos da bebê durante as contrações, e cheguei a
achar que havia algo errado, estava demorando......o expulsivo costuma ser mais rápido..........já
havia 1 hora e meia que estava ali.
O tempo.........não me assustava,
estava mesmo muito confiante e não sentia vontade de desistir. Estava na
partolândia, pensava pouco, mas observava tudo, sentia tudo, não interagia com
ninguém mas estava alerta ao meu redor. A dor me impressionava, mas me
impressionava ainda mais a capacidade de suporta-la e continuar em frente, era
tudo muito intenso! Mas meu corpo estava fraco, meus braços e pernas tremiam,
queria deitar um pouco, e comecei a pedir ajuda a equipe, não estava aguentando
mais.........
Foi ai que soube que quando eu
deitava os batimentos dela caiam, ou seja não rolava de deitar. E que ela já
estava há muito tempo no mesmo lugar, sem descer, que podíamos ajuda-la com um
vácuo extrator, ou eu poderia tomar uma analgesia. Na hora só pensei e falei
que queria o que fosse mais rápido, queria mesmo acabar logo com aquilo tudo e
descansar.
Na contração seguinte, minha
médica posicionou o vácuo na cabecinha dela que já estava bem baixa, e puxou.
Senti o círculo de fogo, ela coroou, agora era comigo, “Vamos nascer, filha, me
ajuda!!!”, eu falava para ela! Ainda se passaram 3 contrações para eu ve-la,
não senti ela saindo, a sensação na hora era apenas de alívio, a emoção veio
com o choro compulsivo do papai ao meu lado. Chorou antes e mais do que Maria
Clara!!!! Eu senti o seu corpo, juntinho do meu e era a textura mais macia e
maravilhosa que já senti na vida. O cheiro do vérnix, que a encobria, o cheiro
dos deuses, nada igual!!!! Nada de dor, apenas plenitude, gratidão ao
universo!!!!
O cordão parou de pulsar, papai teve seu
momento de protagonista, cortando-o, me levantei (sério!! Nem acredito) e fui
deitar para ela mamar. Tudo incrível e
perfeito, melhor do que poderia ter sonhado ou pedido. Maria Clara nasceu as
23:52 hs, cercada de amor, proteção e respeito. E nós, é claro, nascemos
juntos. Sem dúvida uma experiência que me transformou para melhor e para
sempre!
A energia do feminino era
palpável naquela sala de parto, pediatra, obstetra, doula, minha madrinha
médica, era possível sentir a força de todas as mulheres do mundo com você!
Somos muito capazes, poderosas, fortes!!! Nos falta solidariedade às outras
mulheres, sempre julgamos, condenamos, ficamos ao lado dos homens, somos muitas
vezes machistas!
Temos que nos unir mais, pois
juntas podemos sim mudar o mundo, não há força maior do que a força de uma
mulher, de uma mãe, podemos tudo!!!! Este
relato não é diminuir qualquer outra mulher que não passou por esta
experiência, não acho ninguém menos mãe por não ter optado por um parto assim,
por sinal, as mães que mais tem minha admiração são aquelas que nunca geraram
ou pariram, são as mães do coração.
Acredito e luto para que possamos
optar pelo parto que desejamos, baseadas em informação real, com consentimento
livre e esclarecido sobre qualquer intervenção médica que seja feita ao nosso
corpo, e a partir disso tomarmos nossas decisões, sem sermos enganadas e termos
nosso direito de escolha roubado de nós.