segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Relato de Parto - Ludmila Melo - Gael



7/8 de fevereiro 2013 - Nascimento Gael

11h40 da noite. Estávamos no quarto, eu e papai, conversando, quando um leve desconforto me fez levantar da cama e ir pra bola de pilates. Fiquei ali pulando e rebolando na bola quando de repente, senti um "ploft". Senti um quentinho. Me levantei em silêncio e fui ao banheiro. A calça molhada e a água quentinha escorrendo pela perna não deixaram dúvidas. Tirei a roupa molhada, me enrolei na toalha e voltei pro quarto escuro. Disse pro papai: "Não vai surtar, viu? Acho que a bolsa estourou..." 

Ele levantou. Fomos pra cozinha. Levei a bola pra lá. Sentei na bola com a toalha e decidimos telefonar para a sua avó, que tinha que vir para nos levar para o hospital. Ela chegou com a energia dela de sempre, mas tentando manter a calma. Eu estava bem excitada. Nada de contrações ainda. Sabia que o melhor a fazer era tentar voltar a dormir e repousar. Ligamos para a Lise, nossa doula, que nos deu esse mesmo palpite. Quem disse que consegui? 1h40 da manhã, 8 de fevereiro, ainda sem ter conseguido pregar o olho, fomos pro hospital. Lá fora, flocos de neve e um friozinho daqueles...



Não aconteceu nada extraordinário. Fomos monitorados. Estava tudo bem. Bem calmo, pra falar a verdade. Umas 4h da manhã, sugeriram inserir prostaglandina no canal vaginal (parecia uma fita que liberaria o tal hormônio) para ver se o trabalho engrenava. Não concordei muito, mas, inexperiente, aceitei. Não vi diferença nenhuma. Pouco tempo depois fui ao banheiro fazer xixi e o cadarço "caiu". Não comentei nada, mas fiquei feliz. Você chegaria no seu tempo. As 6, tomamos "café" no hospital e vieram ver como eu estava. Como estava tudo na mesma, fomos transferidos para um quarto de "Pre trabalho".

Passamos o dia esperando acontecer alguma coisa. Estava tendo contrações regulares mas moderadíssimas, com apenas desconforto e não DOR. O dia passou todinho. Comemos. Andamos. Pulamos na bola. Conversamos. Cronometramos contrações. Papai tirou uma cochilos. Fui ao banheiro várias vezes. Meu corpo estava eliminando tudo antes do nascimento acontecer. A essa altura do campeonato, vovó estava bem ansiosa e não conseguiu ficar na casa dela, como tínhamos combinado. Aproveitei que ainda estava tudo tranquilo para andar com ela. Do meu lado, segurando a minha mão, ficamos dando voltas pelos corredores do hospital. Estava sentindo mais as contrações, mas estavam moderadas ainda. Nesse meio tempo, papai telefonou pra Lise, para lhe contar do andamento das coisas e combinar dela vir agora no final da tarde. Lá fora, a tempestade de neve continuava cada hora mais intensa, dificultando o trânsito.

As 4h da tarde, vieram me ver. A equipe tinha trocado de turno. O pessoal que chegou era bem animado. Um enfermeiro veio me ver e eu pedi para ser examinada. Um médico veio em seguida e notou que eu só estava com 4cm de dilatação, e sentiu que apenas uma membrana tinha rompido em casa. Ele sugeriu romper a segunda artificialmente. Aceitei. O enfermeiro animado veio com a enfermeira com quem fazia equipe e falando besteira, rimos um pouco enquanto ele explicava o procedimento e o executava. Foi bem rápido, com um espetinho de plástico. "Ploft" de novo. Saiu um tantão de liquido. Eram quase 5h, final da tarde. A partir dai, tudo acelerou muito. As contrações foram ficando cada vez mais fortes e doloridas. Sugeriram que eu fosse para a banheira. Fui. Fiquei lá. Trocava de posição, tentei ficar sentada, agachada, de quatro. Tinha lido que água quente é ótimo, mas cadê o alívio que não chegava pra mim? Nenhuma posição prestava. Papai ficou comigo o tempo todo, tentava ficar calmo e me ajudar, mas eu não estava aguentando. Falei isso várias vezes. Por fim, Lise chegou. Não estava mais pra conversa. Ela chegou e de imediato começou a trabalhar tudo aquilo que tínhamos combinado durante a gravidez: as palavras de conforto e de encorajamento, nossas meditações. As palavras dela e a voz calma me ajudaram a enfrentar uma contração de cada vez. Pedi para sair da banheira. Fiquei em pé e achei terrível. Voltei para a banheira. Ficamos mais um pouco. Andando, fui para o quarto apoiada na Lise e no papai. Eram umas 7h. Queria fazer xixi, mas não relaxava de jeito nenhum e não consegui. Nem no chuveiro, nem em pé, nem de cócoras, nem no vaso. Desconforto. Dor. Muitas contrações. Fortes, sem repouso ou quase. Triturava as mãos da Lise deitada na cama. Achava que "não dava mais". A enfermeira gentil dizia que estava tudo indo muito bem. Queria saber a quantas eu estava, desistindo quase do meu parto natural em troca de anestesia. Veio uma médica. Estava com 9 cm. Já era tarde para a epidural. Era quase hora de "fazer força", não daria nem tempo de fazer efeito e o bebê já teria nascido, me disseram. 

Não conseguia fazer força na posição deitada, ou Semi deitada. Com muita raiva, reuni forças e falei que não era natural fazer força nessa posição. Pedi o banco de nascimento. A enfermeira trouxe. Alívio. Não fiz força. Fiquei apenas recebendo as contrações ali. Lise do meu lado falando sempre. Estava apoiada na enfermeira que, no chão, observava o  seu progresso.

O enfermeiro bem humorado acendeu a luz do lado de fora do quarto. Essa luz chama o obstetra, que só entra em cena na hora H. Entrando no quarto, me viu na banqueta e de imediato, sem respeito ou consideração, falou que não ia "me assistir" sentada ali. Me botaram na cama. Por sorte, só precisei aguentar mais 3 ou 4 contrações ali. Sempre respirando em vez de fazer força, assoprei você pra fora de mim, gemendo a cada contração, cada vez mais alto, cada vez mais grave. Papai andava curioso, observando tudo. Ele viu seu cabelo e me disse. Isso me deu coragem. Mais uma contração, sua cabeça nasceu enquanto eu urrava. E logo em seguida, seu corpinho, que com um grunhido, escorregou pra fora de mim. Eram 9h03 da noite. Nos encontramos pela primeira vez, o médico te colocou em cima de mim falando da beleza da sua "cabecinha redonda, que mais parecia um bebê de cesárea". Nem prestei atenção. Só conseguia cheirar seu cabelinho e falar que você tinha um cheirinho doce, um cheirinho de biscoito. Estava maravilhada. 

Foi assim que você entrou em nossas vidas, Gael. Com um cheirinho delicioso, todo pequenininho, medindo 49cm e pesando 2,530kg e em perfeito estado de saúde, num parto natural pontuado com algumas intervenções que poderiam ter sido evitadas... 

Hoje, fazem 3 anos que essa aventura toda começou. Muito grata pela sua chegada. Por você ter feito de mim uma mãe. A sua mãe. Parabéns meu amor. Feliz aniversário pra nós! Vamos comemorar a sua vida e o nascimento da mãe na qual me tornei nesse dia. 

Com amor,

Mamãe

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