Vínhamos nos preparando para a sua chegada desde o comecinho dessa segunda gravidez, que descobrimos no início de julho, logo depois da nossa mudança para o apartamento da rua Fullum. Ficamos felizes em ser aceitos para ter o acompanhamento das parteiras do CSSS Jeanne-Mance, garantia de um parto natural e com muito respeito, além de consultas humanas e demoradas nas quais conversávamos muito, o que transmitia para nós, pais, muita segurança. Optamos por um parto domiciliar e assim foi. A gravidez correu tranquila. A Lise, nossa querida Doula, vinha nos ver uma vez por mês aos domingos. Seu irmão Gael, nessas ocasiões, ia passear à tarde na casa da vovó enquanto eu e ela conversávamos sobre a sua chegada: o que eu sonhava sobre você a noite, meus medos, minhas vontades e desejos. No final de cada encontro, Lise me fazia uma massagem e, depois de bem relaxada, fazíamos uma meditação de hypnobirthing. Depois, era a vez do Papai ser massageado, enquanto eu aproveitava para tomar um banho bem relaxante. Em seguida, íamos buscar o Gael na casa da sua avó.
Os
meses passaram e nós duas estávamos ótimas. Você crescendo direitinho,
eu engordando e trabalhando feliz com os meus alunos. Tive uma turma
ótima nesse ano letivo de 2014-2015, tanto é que não quis parar de
trabalhar… Até que um susto (um acidente de carro que me tirou da
estrada e me jogou em plena neve) me fez parar de trabalhar poucas semanas depois.
No
finalzinho da gravidez, comecei a fazer acupuntura, para preparar meu
corpo para o parto. Saía de lá sempre bem e relaxada. As consultas com
as parteiras agora eram semanais.
Por
coincidência, tivemos uma consulta de manhã cedo no dia 24 de fevereiro
com a nossa parteira. Fomos deixar o Gael na creche da vovó e seguimos
para a consulta. Chegando no consultório da Charlotte, brincamos: «Quase
te ligamos hoje cedo para dizer que a consulta ia ser lá em casa,
porque achamos que vai ser hoje!!!» Ela riu, perguntou dos sinais…
Estava tendo contrações irregulares desde as 3h da manhã. Às 3h30 Gael
acordou. Somos muito ligados. Pedi para o seu pai atendê-lo essa noite,
pois queria descansar antes do TP engrenar de vez, afinal, poderia ser
logo. Ele foi, mas Gael estava inconsolável. Queria a mamãe. Fui. Fiquei
grudada com ele na cama até de manhãzinha. As contrações continuavam,
mas eu estava curtindo essa noite só nossa, dele como filho único, pela
última vez. Nos despedimos da Charlotte e ela falou para darmos notícias
no decorrer do dia. Disse para ela que tinha marcado acupuntura para
aquela mesma tarde e que telefonaríamos depois da consulta.
Às
3h da tarde, fui para a acupuntura, a pé. Pedi para a Judy: “estou
pronta, quero que seja hoje, pois estou tendo contrações irregulares
desde as 3h da manhã e nada do trabalho engrenar”. Ela sorriu e fez sua
mágica com as agulhas. Por precaução, nesse dia seu pai veio me buscar
na acupuntura. De lá, fomos pegar o Gael na creche da vovó. Ficamos até
as cinco da tarde, mas eu já sentia as contrações mais fortes e mais
ritmadas. Estavam doloridas e não somente «incômodas».
Fomos
para casa. Vovó e tio Ryan nos acompanharam. Enquanto Gael e tio Ryan
brincavam, ficamos pela sala. Conversávamos entre as contrações, que eu
estava recebendo sentada na minha bola de pilates. Ligamos para a Dinda
no FaceTime para contar as novidades. Jogamos conversa fora entre as
minhas contrações. Informamos a Charlotte do andamento das coisas por
volta das 7h30 da noite. Estava tendo contrações a cada 3 minutos e elas
duravam em média 30 segundos. Disse que estava bem. Combinamos de ligar
uma hora depois. Avisamos a Lise para jantar e descansar, pois logo
ligaríamos pedindo para que viesse. Ás 8h40 ligamos de novo para a
Charlotte, mas estava tudo na mesma. Ela veio nos visitar, ja que mora
pertinho. Pedi um exame de toque, o primeiro de toda a gravidez.
Precisávamos saber se ia ser mesmo essa noite, para a vovó levar o Gael
para a casa dela conforme o combinado. Estava com 4 cm de dilatação.
Charlotte confirmou que seria logo. Gael, vovó e tio Ryan foram embora.
Ligamos para a Lise, que disse que ja estava vindo.
A
essa altura do campeonato, estava recebendo as contrações de quatro na
sala, apoiando meus braços na bola de Pilates. Ouvia a música que
escutei durante toda a gravidez nos momentos de massagem e de meditação
com o hypnobirthing. Papai massageava as minhas costas a cada contração,
e eu respirava fundo com cada uma delas. Lise chegou por volta das 10
da noite. Permaneceu comigo, fazendo aromaterapia e falando as palavras
de apoio de sempre, combinadas no hypnobithing. Papai continuava
massageando. As contrações cada vez mais fortes, e numa delas, a bolsa
estourou. Tirei a calça, troquei de blusa. Protegemos o tapete e
permaneci na mesma posição, concentrada. A cada contração, saía líquido
amniótico. Por volta das 11h da noite, Yvette, a segunda parteira,
chegou. Ela e Charlotte vinham escutar o seu coração de vez em quando,
sem nunca atrapalhar a minha sintonia com a Lise e o Papai. Tudo corria
bem. Tive vontade de fazer xixi. Yvete me aconselhou que fosse ao
banheiro e ficasse lá algumas contrações para ajudar o bebê a descer.
Fiz xixi e fiquei sentada. Papai, sentado na beira da banheira ao meu
lado, continuava massageando minhas costas com uma mão, enquanto a
outra, quentinha, fornecia calor à minha barriga, que já tinha diminuido
bastante com a perda do líquido amniótico. Ele sentia as contrações
cada vez mais fortes enquanto acariava você de fora da barriga. Apoiei
minha cabeça na dele, foi a posição que encontrei. A outra mão, apoiada
na Lise, que massageava um ponto preciso entre o polegar e o indicador
para aliviar a dor. Vocalizava durante as contrações. Fiquei em pé, e
para aliviar o calor que sentia, liguei a água fria. Permaneci apoiada
na pia por algumas contrações, molhando as mãos e o meu rosto e bebendo
água gelada. Fui para a cama por volta da meia-noite. Pedi para ser
examinada: estava com 6 cm de dilatação. Yvette me aconselhou a caminhar
para ajudar o bebê a descer, pois ainda faltava dilatar mais. Na minha
cabeça, pensei: “Depois do quinto cm, para mim, tudo corre bem rápido,
ela nao sabe de nada…”. Só consegui falar que não conseguiria andar, a
menos que fosse pendurada no pescoço dela. Todos riram. Permaneci na
cama alguns minutos, mas as contrações, deitada, eram bem mais
dolorosas. Falava que estava cansada e que queria apenas dormir um
pouquinho. Claro que não era possível. Mas falei o que senti na hora…
muito cansada. Voltei para o banheiro meia-noite e meia, outro xixi,
novas contrações, quase sem tempo para me recuperar entre uma e outra.
Já sem conseguir falar, levantei, apoiada no pescoço do Papai e fui para
o corredor. Lise atrás de mim, não parava de falar suas palavras de
conforto. Não suportava nenhuma contração sem a presença dos dois,
fazendo exatamente aquilo que estavam fazendo: Papai massageando e Lise
falando e apertando o ponto entre o polegar e o indicador. No corredor,
não conseguia ficar em pé. Agachei, apoiada ainda no pescoço do Papai.
Falei para todo mundo: tô sentindo que o bebê já vem. Charlotte falou
«Vamos logo levar ela pro quarto»… Não esperei tentarem me levantar.
Assim que a contração terminou, fui andando de quatro para o quarto. No
caminho, parei algumas vezes, novas contrações e sentindo o bebê cada
vez mais perto de nascer. Cheguei entre a cômoda e a cama, outra
contração. Era quase uma hora da manhã quando me perguntaram se eu
queria ir para a cama, ficar onde estava, ou sentar no banquinho de
nascimento. Reuni todas as minhas forças para falar que era tarde para
escolher. Nova contração, círculo de fogo à uma hora da manhã. Yvette
ficou atrás de mim e viu a sua cabecinha coroando. Foi muito mais rápido
do que imaginavam, afinal, dos 6 cm nos quais estava à meia-noite e
quinze, só se passaram 45 minutos e você já estava nascendo. Uma hora e
quatro da manhã nasceu sua cabecinha. Você fez sozinha o movimento de se
voltar para o lado. Uma hora e cinco da manhã, seu corpo saiu de mim de
uma vez só, macio, lisinho, uma delícia. Todo mundo falou para mim: «
pega seu bebê!». Larguei o pescoço do seu pai e aparei você. Sentei no
chão com você no meu colo, com o cordão ainda dentro de mim. Falei: «Que
cara brava!» Ficamos olhando para você, maravilhados com você, que já
nasceu expressiva. Fui para a cama. Você ficou em cima de mim. Cobrimos
as suas costas. Papai sempre do nosso lado. 1h27 saiu a placenta, depois
de algumas contraçõoes incômodas que faziam doer minhas costas. Você já
estava ali procurando o peito. Deixei rolar o momento e aconteceu.
Faltavam dez para as duas da manhã e você já estava mamando como uma
profissional, deliciosamente. Quando terminou, Papai cortou o seu cordão
umbilical, que já tinha parado de pulsar há tempos. Ficamos os três
ali, em família, bobos com você por vários minutos… Você nos surpreendeu
quando, ainda sem fralda, fez o primeiro xixi. Rimos, trocamos os
paninhos. Só bem depois, às 3h30 da manhã, foram feitos os exames e
cuidados, com você sempre no nosso colo. Não pingamos colírio nos seus
olhinhos, mas você tomou a vitamina K. Nada desnecessário foi feito.
Você estava muito saudável, apgar 9-10-10. Pesou 3,100kg, mediu 50cm e
nos encheu de felicidade desde esses primeiros momentos.
Levantei em seguida. Tomei banho.
Antes
de irem embora, Charlotte nos apresentou a placenta, explicou tudo que
poderíamos querer saber a respeito. Deu instruções sobre como guardá-la,
pois a intenção era encapsular e consumir. Deixaram tudo
muito limpo, a cama pronta para a noite e Yvette falou que vinha nos
examinar nas próximas 24 horas e no terceiro e quinto dias de vida da
Eva. Ficamos sozinhos de manhãzinha. Dormimos.
Eu, Yvette e Eva na visita pós parto (3 dias de vida)
Por Ludmila Melo
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