quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Relato de Parto - Marina Viana

          Cinco anos!
          Cinco anos de preparação, planejamento, elaboração, engajamento!
       Como em vários relatos de VBAC que já li também gostaria de contextualizar este, falando do nascimento anterior!
        
         Nascimento de Luan

          Luan nasceu de uma cesariana fora de trabalho de parto! As 37s6d. Uma cesária de “emergência” pois estava pélvico e com ILA de 6,9.
         Me senti amputada, remexida, sem oportunidade de me despedir do meu corpo grávido (que amava) e sem oportunidade de despedir com calma da nossa relação intrautrina, de cohabitação.
         Luan nasceu bem! Sempre foi uma criança forte! Cirurgia foi bem! Eu estava bem clinicamente. Mas estraçalhada física e emocionalmente!
         O puerpério foi bem difícil! O início da amamentação idem! Luan, sem sombra de duvida, era quem me salvava! Mauro, meu companheiro, também!
         Os dias foram passando, os meses foram ficando mais fáceis, os anos foram ficando mais leves, apesar de um doutorado pra defender e uma criança pequena demandante!
         O ativismo pela humanização do parto, que era de principiante durante a gravidez de Luan, foi ficando cada vez mais forte! Fui me engajando, tentando organizar marchas com as outras ativistas, participava de rodas, me sentia monotemática virtualmente porém era minha necessidade de ainda elaborar muito o assunto, tanto do meu parto como da militância! Enteni que ILA 6,9 não era indicativo por si só de casaria! Que bebes pélvicos nascem, se assistidos por equipe experientes! Não foi o nosso caso! E o inicio da ressignificação do parto de Luan acontecia! Fiz terapia! Ajuda por todos os lados! Sou muito grata a família e amigxs!


         O Percurso

         Até que no final de 2013 defendi minha tese e me senti livre, leve e solta para mergulhar de corpo e alma no mundo da gravidez, das evidencias cientificas e dos partos humanizados! Que delícia!
         Janeiro de 2014 tive a oportunidade de fazer meu primeiro Curso de Doula Comunitária, pela Secretaria Municipal de Saúde de Natal! Lá reencontrei e estreitei os laços com minha doula Rosário, conheci pessoas incríveis que fizeram parte dessa historia ativamente (Clarissa, Gabi, Anna Bia, Ana Lídia, Anne, Marcela, Hana, Raquel, Debora, Nicole, e muitas outras). Iniciava-se uma rede de mulheres dispostas a se movimentar em prol de uma causa! O caminho era (e é) árduo em Natal mas tínhamos vontade e afinidade! Foi lindo e está sendo!        
         Assim, iniciou-se minha carreira nas doulagens. Primeiro na Maternidade de Felipe Camarão, de modo voluntário. Minha primeira doulagem foi no dia do meu aniversario! Meu presente! Tive a oportunidade doular, ainda sem muito jeito, mulheres desconhecidas, que estreitei os laços, rompendo o gelo e tentando trazer algum conforto! Dava pra sentir a gratidão delas pela simples presença e companhia. As semanas se passavam e as doulagens iam acontecendo! Foi em FC que conheci Maíra, doula também, que me dava apoio e troca em FC.
         Com Rosário acompanhei algumas clientes dela, como aprendiz de doula. Foram poucos acompanhamentos em conjunto com essa tutora incrível porém de uma riqueza enorme. Pela SMS também fiz um curso de Educadora Perinatal com o mesmo grupo de ativistas. A Associacao Potiguar de Doulas iniciava seus trabalhos, com suas rodas de gestantes! Tenho orgulho e muita felicidade de participar desse grupo.

         Até que em outubro de 2014 fiz meu segundo curso de doula, agora pela DONA, a Associação Internacional das Doulas, conduzido pela maravilhosa Ana Paula Merkel. Foi incrível! Senti uma confiança e calma nas doulagens seguintes!

    A Segunda Gravidez
  
         Logo depois me descobri grávida novamente!
         Uma alegria! Já era um projeto antigo!
         Feita as contas, que coincidência: a data provável do parto desse novo bebê era praticamente a mesma do Luan: 14/08. Luan completaria 40s dia 13/08. Pensei: “Tão igual, mas será diferente!”.
         Diferente porque dessa vez eu sabia o que eu queria pra nós: um parto domiciliar planejado!
         Eu sabia que não queria saber o sexo do bebê, uma vontade desde o primogênito. Eu sabia que não queria a assistência obstétrica tradicional potiguar!
         Assim, nosso caminho foi trilhado. Contactei e já reservei a data com a recém formada equipe de PD de Natal, com a obstetriz Heloisa e a enfermeira obstétrica Clarissa. Falei com Rosário, que mesmo diante da direção da única maternidade dentro dos moldes de humanização da cidade, aceitou prontamente em me doular! Tudo lindo e fechadinho!
         Segui o prenatal com a equipe de PD e a mesma obstetra do nascimento anterior. Com a GO me sentia mais segura a cada consulta! Quanta diferença! Com as meninas do PD, cada consulta era um desabafo, uma elaboração, a criação de um grande vínculo estava se construindo. E as visitas com Rosário eram deliciosas, de muita cumplicidade e sororidade.
         Também combinei com minha grande amiga e doula Liana, que ela participaria do parto. Liana era minha referencia de VBAC pois eu participei, como fotógrafa, do VBAC dela.
         De uma forma muito natural, a GO foi saindo de cena já que, ao final da gestação, falei que não tinha menor interesse em parir nas maternidades particulares de Natal. Resolvi não me indispor com ela e assumi não comentar sobre o PD. Para ela, nos iriamos nas ultimas para Leide Morais e pronto! Sem mais explicação!
         Aliás, nessa gravidez resolvi evitar comentários tóxicos desde sempre. Primeiro, menti para to-dos, todo mundo mesmo a DPP. Só quem sabia que meu bebe poderia nascer em torno do dia 14/08 era a equipe. Melhor coisa que já fiz! Coloquei a DPP 2 semanas pra frente, pro grande público! Além disso, o plano de PD também poucas pessoas sabiam!
         Uma coisa importante que fiz nesta gravidez foi reunir objetos que me fortaleciam. Um exemplo disso foi um mural de inspiração com frases e fotos motivadoras. Fazendo isso sentia aquela sensação gostosa de quem está arrumando uma mala, com todo carinho, para uma viajem inesquecível!
         Reuni frases de amigos e amigas! Cada uma mais linda que a outra! Imprimi fotos de amigas-irmas já paridas. Muitas com VBAC. Separei trechos e frases de palestras da Naoli, de musicas que gosto. E fui montando os murais, dois no final! Fez toda diferença antes, durante e depois!

Trabalho de Parto e Parto

         Fazia dias que todas as noites sentia umas colicazinhas no baixo ventre. Algo começava a acontecer porém estava treinada para não ficar ansiosa. O fato de não sabermos o sexo do bebe foi um ótimo treinamento pra ansiedade, recomendo!
         Na manhã do dia 08/08 comecei a sentir umas colicazinhas mais fortes, o tampão começou a sair,  muito diferente do tampão do Luan. Parecia início de mestruação.
         Eu tinha planejado quase 7 pessoas no meu tp (Mauro, Helo, Rosário, Liana, Dra. Edilsa, Lívia e Luan) porém nada se concretizou!
         Liana chegava só dia 10/08, Rosário teve um imprevisto pessoal e minha Irma Livia resolveu não vir, depois de um sonho revelador!

         Como não botei fé que ia engrenar a partir daquele sábado ainda tinha esperança que todo meu elenco iria todo comparecer. Sabe de nada, inocente!
         Boa parte do trabalho de parto fiquei só com Mauro e depois com Mauro e Helo. Senti que precisava de uma doula e chamei Clarissa, minha EO, para servir este propósito, substituindo Rosário e Liana! Foi imprensidivel! Até a chegada dela, eu me doulava internamente, sempre lembrando as frases que estavam no meu mural de inspiração! Sempre lembrando de beber água! Tão engraçado isso!
         O sábado começou então com contrações fracas, irregulares e totalmente suportáveis! A fase latente estava se iniciando mas pensava em pródromos! “Só pode ser pródromos ainda!”. E assim segui vivendo o sábado! Ignorando toda contração sentida!
         Dirigi, pintei a barriga de gesso com Luan, brinquei com ele, fiz almoço, tentei descansar a tarde (vai que engrena!) e então resolvi ir no chá de bebê de uma amiga! Ainda bem que fui!

         Me distrai, conversei, comi, senti as contrações ora doloridas ora não! Tampão saindo muito! E quando Mauro nos pegou as 19:30, que eu sentei no carro, as contrações foram ficando mais fortes!
         Chegamos em casa e Luan dormia! Pedi pro Mauro me fazer massagem nas pernas! Tava doendo muito! Deitei! Massagem nos pés, pernas, coxas, parte interna das coxas... tudo doído! Era muito relaxante até que: doooor
         Uma contração de verdade! Doloriada!
         “Massagem na lombar Mauro”. E ai eu vocalizava!
         Eram umas 20:30.
         E assim foi: massagem, banho quente, massagem, conta contração, envia pra parteira, xixi, coco, massagem, massagem! Banho quente! Preciso de água, Mauro! Água no Canudinho, a melhor invenção ever! (eu já adotava com minhas clientes! Dica da Ana Paula Merkel).
         “ Você tá indo muito bem, Marina”. Ele dizia!
         Era animador!
         Acho que lá pelas 1:00 peço pra Helo vir avaliar o bebe!
         Muita dor!
         Muita!
         Ela chega! Ela avalia! Tudo bem!
         Tudo já estava muito confuso, em termos de horário, nesta altura das contrações! Vi que os dois estavam enchendo a piscina!
          E eu: banho quente, vocalização, massagem, banho quente e peço um toque pois não era possível tá no inicio de TP (meu medo) com tanta dor!
         “8cm, Má!”
         “Graças a Deus! Helo, não me deixa desistir!”
         “Não, nunca!”
         Daí pra frente “foi ladeira abaixo”!
         Entrei na piscina horas depois e fiquei até o nascimento do nosso bebe!
         Entrei na piscina já falando “To sentindo os puxos, helo!”
         E fiquei sentindo contrações e os puxos! Por 2 horas! Até o nascimento!
         Foi, sem sombra de dúvida, a parte mais dificl de todo o TP!
         2 horas de expulsivo! Ora eu me tocava e sentia a cabecinha ora não!    Entrava e saia! Eu pensava: vou ficar nisso eternamente! Para sempre! E agora? Era desesperador, na hora!
         “Helo, tem alguam coisa errada! Ta demorando muito!”
         “É o bebe moldando seu períneo, Má! Tá tudo nem!” Os BCF estavam exelentes! Me acalmava!


         Clarissa já estava comigo nessa altura, com massagens e água quente na lombar: “Tu consegues Marina!” Com seu sotaque gaucho inconfundível!



         Pedi uma corda pra puxar! Lembrei da Naoli falando que “pari era um ato solitário”. A corda me ajudava na hora de me espremer! Me concentrava!

   Entre um puxo e outro respirava, relaxava e olhava pras fotos daquelas mulheres amigas inspiradoras: lia o ABRE! Da Krys. Lia o Confia em sua natureza, da Marisol e Marcionilia. Lia o Lembre da sua Linhagem vendo a foto da minha irmã na banqueta. Lembrei da minha mãe! Olhei a foto do Luan. Fiquei nesse processo pro um bom tempo!
     Achei o final do expulsivo punk! Achava que aquela dor ia me partir no meio! Era uma dor desestruturante! De quebra mesmo! Em todos os sentidos! Uma dor que me descontruia!
     
          E então me vi com gritos grutais, animalescos mesmo! Nunca senti isso antes! O útero tem muita força... uma força qu puxa pra baixo! Uma forca involuntariamente forte! Forte mesmo! E muito difícil porem Sou muito grata por ter sentido tudo 
isso!
         E ai o bebe coroou! Coloquei as mãos ao lado pensando: não, vc não vai entrar de novo, kkkkkk.
         Outro puxo fortíssimo e “saiu a  cabeça! Saiu a cabeça! Ta girando! Tá girando!” Senti tudo!
         Agora tava com pique! Agradecendo o nascimento da cabecinha! Sabia que tava perto do final! Alisei a cabeça enquanto que a outra contração não vinha: “é bem cabeludinho!”.
         E ai me apoiei no Mauro e Clarissa. Fui sustentada mesmo! E com ajuda da gravidade meu bebe nasceu! As 6:25 de uma manha de domingo!
         Helo me deu!
         E toda a dor acabou instantaneamente! Todo o cansaço!
         Eu era riso, choro, gratidão, obrigada pra todos os lados. Chorei descontroladamente acho! Kkkk
         Clarissa perguntou sobre o sexo do bebe! Foram alguns minutos que nem lembrei disso! Alias, se ela não tivesse perguntado teria ficado horas sem saber, kkk!
         “Eu não sei! Deixa eu ver o que vc é meu amor!”
         “é uma menina? Eu não to vendo direito Mauro? É uma menina?”
         “é uma menina!!!!”
         Gargalhei!
         Gargalhei muito!
         “Minha Flor! Minha Flor!”
         E assim Anna Flor nasceu!
         Ninguém tocou na gente! Nem em mim nem nela!
         Fomos agentes e ativas nessa jornada!



Com o apoio importantíssimo de todos os presentes!
Somos só gratidão: A mauro, por acreditar desde sempre nessa decisão!A Helo, por respeitar tanto o fisiológico! A Clarissa, pelo apoio incondicional em todas as fases dessa gravidez! A Rosário, uma doula pra chamar de minha!  A liana e minha Irma pelas palavras de conforto e incentivo! A Luan, por me tornar a mãe que sou hoje! E a todos que participaram de alguma forma dessa jornada incrível!
        

  Foi incrível!

         E eu faria tudo de novo!


Por: Marina Viana.

Um comentário:

  1. Marina, mulher... Hoje (ainda bem que tava em casa, não no trabalho) foi um chororô.... Que lindo e emocionante relato de parto e lindas fotos.... :) A tranquilidade e maneiras de lidar com a ansiedade antes do trabalho de parto, me exemplificam como lidar com a minha hora... :) Um expulsivo de 2 horas, me mostra como enfrentar o medo pra enfrentar os momentos difíceis e únicos que surgirão na minha hora...O exemplo de fraqueza ao pedir pra sua doula não deixar vc desistir, só me mostram que mesmo as mais fortes, mais empoderadas, mais preparadas, também sofrem com seus próprios receios... e que eu tb sofrerei na minha hora!

    Obrigada pela partilha irmã.

    É engraçado como o mundo dá voltas... O destino é muito doido! Valeu demais pela força nesse momento e tb pela força no pós-parto do Théo, que foi crucial o teu exemplo naquele momento de tanta dor...

    Muito AMOR, LUZ, SORTE e SAÚDE pra toda a família!!!
    Vou compartilhar seu Relato de parto com as queridas aqui do nosso grupo de Macapá, tá? :)

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